Distância
O esquilo com uma borboleta no focinho.
- Ela sorri-lhe?
- Pelo que vi, não me pareceu.
- Pelo que vi, não me pareceu.
- Olhar penetrante e poder oculto. É ela que dita.
- É a pantera negra em cima de um tronco velho de uma árvore. Parece querer desvendar o que penso. É-me indiferente. Do outro lado, está a lua e uma ninhada de gatos. A maioria são brancos, mas há também os malhados. O rio flui calmo. Exerce uma distância entre eles e a pantera negra. A noite desvenda-se de cores azuladas e tímidos brancos. Os nevoeiros elevam-se como fumaças. As nuvens em movimento formam imagens. Estas miram-se profundamente nas águas transparentes. Os gatos parecem gigantes neste espelho natural. São uma ninhada de uma gata que há muito os pariu. Deu-lhes colo? Tudo indica que não. Deu-lhes a vida e foi-se embora. A Natureza criou-os. É o seu aconchego. O drama não existe, cria-se.
Lá, muito distante, a pantera negra não o parece, porém está sempre atenta. De mansinho, desce do tronco. Decidiu abandonar a árvore. Sem pressa. Elegantemente, caminha. Entre sombras, a lua segue-a. Lado a lado. Uma encosta íngreme, aproxima-se. Não a teme. Inicia-se a subida. As garras afiam-se. Seus olhos estalam firmemente. A lua mantém-se leal.
G.L.
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