terça-feira, 2 de abril de 2019

Excerto_obra não editada

" Numa bela tarde, como outra qualquer, estava ela a pescar descontraída e relaxada. Sim, porque sempre lhe disseram que pescar, relaxava o pensamento e o corpo. Não era a sua primeira vez em que estava a pescar. Mas, naquele dia, estava a adorar. Só havia um problema, não tinha apanhado nenhum peixe, aliás, como sempre assim sucedia. Monja, não entendia porque os peixes fugiam das mulheres.
Os colegas pescadores, riam-se e faziam troça por ela levar o balde sempre vazio. De todas as vezes que a viam de cana de pesca dirigida ao rio, comentavam:
- Mas o que quer afinal esta mulher? Peixes não apanha, conversa não nos dá. Fica de queixo levantado a olhar para o horizonte como se visse nele a sua figura... E riam.
Ora, Monja, observava-os de longe. Sabia que troçavam dela. Mas também sabia que eles nada sabiam e gostariam de saber o que ela sabe e deseja.
Passava uma hora, passavam duas e ela sem pescar, relativamente nada. Mas nesse dia sentia que se pudesse levar um peixe para casa, poderia acabar com a risota dos vizinhos do lado.
Estava já a tarde a passar e sentiu-se a desanimar por afinal se repetir o mesmo e seria chacota de riso. Num piscar de olhos, a sua cana de pesca começou a mexer-se. Ela começou logo a puxá-la como se um tubarão tivesse caído ali por engano. Logo se acalmou, e pensou em como seria gratificante levar um bom peixinho para o jantar, quando de repente ouviu uma voz:
- Larga-me! Larga-me!
Ela assustou-se logo e largou a cana de pesca. Os outros pescadores, espantados porque não entenderam tamanho constrangimento. Monja, olhou de relance para eles, recompôs-
-se e percebeu que tinha exagerado. Que algo na sua imaginação a estava a envergonhar ainda mais. Devagarinho, sentou-se na pedra e tentou apanhar e endireitar a cana de pesca e disfarçar aquele momento, com o seu habitual bem estar perante as circunstâncias que se aprontavam nas suas ações diárias. 

Passado algum tempo, já mais calma, ela voltou a olhar para a água. Lá estava o bichinho, com o olhar bugalhudo, a olhar para ela fixamente. Era parecido com um punho, como se fosse um troféu, amarelado e arredondado. - Bem... olhar tu olhas, mas não falas, pois não?... – pensou a mulher, ainda duvidosa.
- A verdade, é que falo mesmo. E é contigo que estou a falar.
A mulher, cheia de tiques, ainda nervosa, dá um retorno com a cabeça para trás e de mão na boca, perguntou incrédula: - Ah é... Olha, e quem és tu?
Ela, ainda curiosa, sentiu que tinha muitas perguntas para fazer àquele estranho animal, mas nesse momento era a que mais queria saber porque não tinha a resposta na ponta da língua para o que estava a acontecer-lhe, naquele dia.
- Sou o Invisível, e antes demais, obrigado por teres largado a cana. Agora, deves estar a perguntar-te que espécie sou eu? Pois bem. Faço parte de uma espécie muito rara, tal como tudo o que é invisível aos olhos de quem não quer ver. Vivo em lugares fantásticos, daí a minha essência não ser detetada por todos.
- Invisível! - Sim, mulher! Invisível! E não comeces agora a reagir como se fosse algo que não vês. Estás a ver-me, não estás? A mulher, espantada com a criatura, ficou sem palavras. Por um instante, teve vontade de se atirar à água e refilar com o bicho que a estava a desafiar. A seguir, teve vontade de saber o que se estava a passar com ela. Questionou-se se estaria a dormir, e a sonhar, ou doida. Ou então mais sabiamente, porque teria sido escolhida por aquela criatura.
Subitamente, o seu pensamento é interrompido: 
- Queres ir comigo ao fundo do mar? Sem pensar nem hesitar, nos seus interesses mundanos, acenou-lhe com a cabeça que sim, e disse-lhe: - Não sei nadar. A tua pergunta não é comum a nós. O fundo do mar... Como conseguiria respirar?
- Dar-te-ei a beber o liquido secreto de respiração debaixo de água. Ele perdurará enquanto acreditares no que é invisível aos teus olhos. A partir do tempo em que deixes de acreditar, o efeito acabará e acordarás onde sempre estiveste.
A mulher, entendeu que o olho bugalhudo sabia o que pretendia. Era como se a conhecesse, pois ela sempre sentiu desejo de conhecer o fundo do mar. Assim, aceitou o convite que lhe foi proposto. Invisível lançou-lhe um líquido extraído do seu corpo, uma espécie de pé que se abriu e evaporou borbulhas estrelantes que se desprendiam de si de baixo para cima e vinham na direção da mulher. Em rotação vertiginosa, como um satélite, lá foram com destino ao fundo do mar. A mulher nem queria acreditar no que estava a ver, peixes de milésimas cores, algas e corais multiplicados, de tons bonitos como flores de jardins do Édipo, pedras dos mais estranhos formatos... Aquilo era tudo fantástico, os peixes, não havia nenhum igual a outro, e quando viajavam em cardume, era mesmo belo e divertido. Os corais eram a sensação de estar-se fora da realidade, mas quando a mulher se picou num, não sentiu tanta admiração por eles... Mas, depressa se esqueceu deste pormenor e logo usufruiu da beleza que estava a ver. Nada é comparável para se poder igualar, ou então pouco sublime.
A mulher sentia-se tão feliz, que se esqueceu de onde vinha e porque estaria ali, naquele lugar de encantamento."
                                                 (obra ainda não publicada)                                                                                                                                                                             G.L.

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