As temperaturas sobem...
As temperaturas sobem, o ar é estrelejante, o povo liberta-se dos agasalhos e a esperança existente em cada coração gentil, renova-se no centro das multidões que apressadamente soletram as passadas para chegar mais longe, ou pelo menos, ao que se destinaram fazer, nestes dias soalheiros, confusos pelo calor, sem nada prometerem até ao fim do que quer que seja.
E a chuva? Parece que desapareceu, pelo menos por enquanto. - Ó mal de nós! Alguém exclamou enquanto trocava duas palavras atenciosas com a mulher que freneticamente enchia os cestos de pão fresco... Que cheirinho! Isto pensei eu... Enquanto o cheiro do pão fresco saído do forno ia entrando pelas escapadelas da padaria e entrando pelas narinas, seduzindo-me... Elas continuavam a predizer o que lhes ia na alma, nesta manhã tão asseada e airosa.
- A chuva, não me diga nada?... Não é que semeei umas alfaces e já podiam estar cá para cima, e ainda nem sinal delas?... Se assim continua, vai ser bonito, vai, vai... Atenciosamente, muito confiante e cheia de sabedoria, a senhora idosa, de bengala na mão, com um sorriso contagioso, olhar profundo, brilhante e meigo, disse-lhe: - Imagine que a chuva está a cair no telhado, que é onde faz sempre barulho, e ela não tardará a vir.
De seguida, quem freneticamente trabalhava, levantou as costas e parou... Parou como se talvez nunca tivesse esperado fazer uma pausa imediata. Olhou a outra senhora pensativa... Talvez lhe quisesse perguntar ou responder algo, no entanto nada lhe disse. Todavia, penso que lhe foi impossível, pelo desejo tão expressivo que demonstrou enquanto enchia o cesto de pão, não visualizar a imagem da chuva caindo sobre o telhado. Se foi sobre o seu, ou de outro alguém, não o sei!?... Mas o seu rosto mostrou-se satisfeito com o conselho oferecido, sem reclamações, e muito menos, obrigações, apenas consentiu em utilizar a imaginação. De acordo com a visão sábia da idosa, isso seria o suficiente para que a abençoada chuva de primavera aparecesse. Como se não bastasse, além de elas duas, também não me foi possível abstrair-me de idealizar, nestes dias de temperaturas mais altas para a época, segundo os meteorologistas, pois os entendidos são eles, e poder imaginar os pingos da chuva a caírem nos solenes telhados de cada casa, para assim, saciarem a sede das plantas e outros demais. Simplesmente, imaginar. Imaginemos então... Imaginemos as melhores coisas, sempre!
G.L.
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