quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Café_DIÁRIO_Gostaria de ir?

Gostaria de ir?

Raramente, não se sabe se devemos ficar ou ir... gostaria de ir?

Ir é estar em contacto com o ficar... Ir é o que mais se busca nos trocadilhos que ressuscitam para atrapalhar o que já nasceu trapalhão, segundo o dizem, e por isso é motivo suficiente para esmiuçar a sua componente de significado mais arriscado desde que assim se pensa. Esta ideia trapalhona e incompleta dá azo a outras nostalgias que aparentemente de nada servem. Portanto, se não prometem efeito nenhum nestas novas andanças em prol de bem estar, então porque há a necessidade de se estar a vasculhar a razão do sentido profundo de para onde se quer ir? Caso não seja encontrada uma solução mais benéfica, só se pode ficar... Ficar como está. Mas é assim que gostaria de ficar ou ambicionaria ir mais além?... 

Entre o ficar e o ir o melhor é voltar avaliar seja o que for, e avisa-se de que pode não haver certezas nesta procura insensata que entra pela noite adentro carregada de anseio e adrenalina convincente para o contentamento de quem está em volta do teclado despido e escolhendo entre ir ou ficar. Realmente, parece absurdo. Porém, acredita-se que sempre que se vai também se fica, quer seja a matutar na razão de ter ficado ou de ter-se ido, mantendo-se calado. A parte legível e decifrada ficou no silêncio da época em que foi proclamada, quer tenha sido entendida, ou ainda não. Então, nada se pensou. Para alguém pensante, pode ser difícil ficar sem pestanejar porque não entendeu ainda nada do que espera conseguir absolver em pouco tempo. Provavelmente, há quem não discorde de que ir em frente é um ato bem corajoso e preciso. Por outro lado, numa vertente mais estática, ficar porque se gosta de ficar, e apenas é assim, também é um ato nobre e precioso porque se escolheu ficar e à primeira vista, estar de bem, e assim não há a busca de sentir que tem de ir, então fica-se onde se deve estar. Nestes dois pólos, constatam-se duas formas positivas de viver, de conhecer, de saber escolher, de preservar a atitude certa que em dado momento se pode aprisionar a qualquer sujeito bem dado consigo e com todos os outros, em que é preciso saber respeitar... Ir ou ficar?

Fico no silêncio profundo da noite com a alma a suspirar pela lembrança cor-de-rosa de que mais um dia já passou e a chuva cai de mansinho para suavizar e lembrar de como é sempre um bem abençoado. É nesta almofadada quietude que é bom agradecer pelo bem de querer ir em frente... Pelo bem de respirar, pelo bem de desejar, pelo bem de caminhar, e pelo bem de todo o bem. Se há os sons do ruído do trânsito, vozes de pessoas aceleradas, risadas desatinadas... mas que provocam um sorriso, certamente é um bem. Se o pássaro teima em cantar, mesmo de noite, ou se o gato que está no prédio ao lado, não para de miar, porque os donos o deixaram na varanda, um bem deve ser... Mesmo que dê vontade de sair do aconchego e ir bater-lhes à sua porta, e de preferência, suavemente, dizer alguma coisa. Mas dizer-lhes o quê? Já não parece muito bem, para os donos, pois para o gato?...

                                                                                                                          G.L.

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